Dentro do possível, o colunista Renato Bernhoft fala da oportunidade de fazer uma revisão da forma como encaramos nossos papéis e o quanto necessitamos rever nosso projeto de vida Um dos aspectos que merece bastante atenção é o isolamento, com todas suas implicações, tanto na estrutura individual, familiar, profissional e coletiva, segundo colunistaA pandemia segue seu rumo sem fazer qualquer distinção de raça, país, status social, idioma, e até já se pode notar os impactos emocionais que ela provoca. Segundo as últimas pesquisas os mais afetados têm sido negros e pobres. Mas um dos aspectos que merece bastante atenção é o isolamento, com todas suas implicações, tanto na estrutura individual, familiar, profissional e coletiva. Vale sempre registrar algo que já tratamos em crônica anterior, que a possibilidade de um isolamento completo é um privilégio para poucos diante da nossa realidade social. Vale ainda o registro que a pandemia escancarou esses contrastes sócioeconômicos da nossa população.Pandemia reforça necessidade de revisões permanentes na carreira Criar, no ambiente doméstico, condições para aliar trabalho, convívio familiar, respeito à individualidade e isolamento, está sendo possível apenas para um reduzido número de brasileiros que já possuía uma confortável situação financeira e social. As pesquisas mais recentes vêm demonstrando as tremendas dificuldades que muitos profissionais, e familiares, têm apresentado diante desse novo panorama.O aumento da violência doméstica, das separações conjugais, dos feminicídios, do stress emocional e até de assédio moral e sexual, demonstram o quanto estávamos despreparados para uma circunstância dessa natureza. Até mesmo entre os privilegiados tem sido relativamente pequeno o agrupamento que conseguiu entender, ou até mesmo valorizar o isolamento, como uma oportunidade de reflexão, aprendizado e autodesenvolvimento.E como contribuição a esse processo, que tem caráter eminentemente individual, transcrevo abaixo as conclusões de um estudo dos psicólogos Wendi Gardner e Marilyn Brewer, com base na pergunta: “Quem é você?”, publicadas no livro “Solidão – A natureza humana e a necessidade de vínculo social”, de John T. Cacioppo e William Patrick (Ed. Record).Segundo eles, a descrição pessoal pode ser categorizada em três grupos básicos: Um eu pessoal, ou íntimo. Refere-se ao “você” de suas características individuais, sem referência a mais ninguém. Inclui altura, peso, inteligência, aptidão atlética ou musical, gosto por música, literatura e outras preferências pessoais. Um eu social ou relacional. É quem você é em relação às pessoas mais próximas – cônjuge, filhos, amigos e vizinhos. Quando você se apresenta como “marido de” ou “pai de”. Ou seja, é a parte de você que não existiria sem uma outra pessoa na sua vida.Um eu coletivo. Esse é o você como membro de certo grupo étnico, tem uma certa identidade nacional, pertence a certas associações profissionais ou de qualquer outra ordem. Similar ao eu relacional, essa parte não existiria sem outras pessoas. O que os distingue é que essas são identidades sociais mais amplas, ligadas a grupos sociais maiores.Segundo os psicólogos essas três dimensões permitem uma autoanálise sobre as formas como nos relacionamos na sociedade.Vale ainda mais um registro, com um olhar de observação sobre o momento que estamos vivenciando, uma análise de Eugênio Bucci e Mário Dallari Bucci, publicada recentemente no jornal “O Estado de São Paulo”, sob o título “BBB a escola da TV brasileira”, em que afirmam:“Assistir ao BBB foi um aprendizado insubstituível. No circo dos atores confinados, que performam durante as 24 horas do dia para saciar a volúpia do olhar da massa, revela-se um laboratório rico em lições preciosas, não sobre o entretenimento vulgar, mas sobre a política e a forma como as massas gostam de lidar com seus astros.”E para concluir este conjunto de observações e comentários, fica o convite e provocação para que, na medida do possível para você leitor, aproveite o isolamento para uma revisão da forma como encara os seus papéis e o quanto necessita rever o seu projeto de vida. Bom trabalho.Como lidar com a perda do sobrenome corporativo
Valor Econômico