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"Falta gente para contratar", diz presidente da CDL Manaus sobre escassez de mão de obra"

Por Portal Nosso Show/Redação em 30/03/2025 às 11:20:57
(Foto: Muro Neto/Secom)

(Foto: Muro Neto/Secom)

"Falta gente para contratar", diz presidente da CDL Manaus sobre escassez de mão de obra

O Brasil atingiu 6,2% de desemprego, o menor patamar da história. O dado, apesar de positivo, já reflete na falta de candidatos a vagas de qualificação básica, conforme cenário relatado por Ralph Assayag

No trimestre encerrado em dezembro, o Brasil atingiu 6,2% de desemprego, o menor patamar da história. O dado, apesar de positivo, já reflete na ausência de candidatos a vagas de qualificação básica.

O presidente da Câmara dos Lojistas de Manaus, Ralph Assayag, diz que propôs ao deputado federal Sidney Leite (PSD-AM) uma legislação que permita ao beneficiário do Bolsa Família continuar com o auxílio com uma redução de 50% mesmo se conseguir um emprego.

Ele também comentou sobre os ganhos para o comércio do Amazonas com a reforma tributária, sobre os impactos da inflação e do endividamento da população. Confira a entrevista.

O que interessa ao comércio na tramitação deste segundo texto de regulamentação da reforma tributária?

Essa parte do debate serve principalmente para analisar os fundos ou o chamado cashback. Mas isso já está bem ajustado e alinhado, então não deve ter tantos problemas. A Constituição de 1988 trouxe vantagens para o comércio, tanto que a Zona Franca de Manaus se tornou um dos maiores polos importadores do Brasil. No entanto, estamos perdendo essas vantagens e sendo prejudicados, o que praticamente levou à estagnação do comércio na Zona Franca de Manaus.

Com essa reforma, voltaremos a ter as mesmas vantagens de 1988. No entanto, essa mudança não será imediata, mas entre 2026, 2027 e 2030. Somente em 2032 o restante do Brasil perderá essas vantagens, tornando a Zona Franca ainda mais atrativa. Isso tornará o comércio mais dinâmico e urgente. Grandes empresas de atacado já estão avaliando a instalação de galpões com terminais em Manaus. Além disso, empresas de data centers, que enfrentam problemas críticos no Brasil, estão estudando formas de garantir redundância em energia elétrica e internet na região.

Com esses investimentos, a Zona Franca do comércio poderá atrair grandes corporações contratantes de mão de obra, gerando empregos e melhorando a qualidade dos serviços de energia e internet para toda a cidade.

A reforma tributária foi amplamente discutida e desenhada pelo senador Eduardo Braga, seu relator, que ouviu atentamente nossas considerações sobre a necessidade de contemplar a Zona Franca do comércio.

Se tudo ocorrer conforme o esperado, essa reforma poderá trazer um grande volume de novas empresas atacadistas, distribuidoras e de data centers, podendo gerar mais de 60 mil empregos nessas áreas. É, de fato, uma transformação significativa.

O Serasa anunciou esta semana que 800 mil pessoas no Amazonas estão inadimplentes sem saber. O quanto esse dado pode impactar o comércio, especialmente se crescer mais?

O Serasa é um dos birôs de crédito e mantém um convênio com o SBC Brasil, eu sou vice-presidente do SBC Brasil, e no Amazonas, nós temos um banco de dados ainda mais amplo do que o do Serasa. A inadimplência se divide em duas categorias: a primeira é quando a pessoa já tem uma dívida em aberto; a segunda ocorre quando há atrasos no pagamento, mas a pessoa ainda consegue quitar seus débitos.

Há um risco iminente, pois estamos perdendo poder aquisitivo. Isso acontece quando os preços de itens essenciais – como gás, combustível, alimentos, construção civil e medicamentos – sobem, mas os salários permanecem os mesmos. Assim, um salário de R$ 2.000, por exemplo, acaba tendo um valor real reduzido para cerca de R$ 1.700. Com menos poder de compra, os consumidores gastam menos, afetando diretamente o comércio.

Se as vendas caem, as lojas podem demitir funcionários. Essa é nossa maior preocupação, e nossa principal bandeira é evitar demissões. Estamos adotando medidas como a redução de custos operacionais – cortando gastos com luz e água, por exemplo – para manter os empregos. Reunimos os principais empresários e empregadores do estado para alinhar essa estratégia, e até o momento temos conseguido manter os postos de trabalho. No fim, tudo se resume ao poder aquisitivo da população.

A taxa básica de juros no Brasil subiu para 14,75%, por decisão do Banco Central, e já há um aumento previsto para maio. Qual avaliação a CDL faz disso?

A inflação ocorre quando há alto consumo, mas baixa produção. Imagine uma torneira com pouca água entrando e muita saindo – inevitavelmente, faltará água. Nossa indústria ainda não conseguiu aumentar sua produção de forma significativa, apesar de ter batido recordes, como no setor de ar-condicionado.

Para equilibrar o mercado, seria necessário dobrar a produção. No entanto, se isso ocorrer e a demanda cair, os produtos encalham, forçando a redução dos preços. Mas, no cenário atual, tudo o que é produzido é vendido, o que alimenta a inflação.

Para conter esse processo, o Banco Central aumenta os juros, reduzindo o poder de compra. Assim, um consumidor que compraria uma geladeira de R$ 1.000 parcelada, ao considerar os juros, verá o valor final subir para R$ 1.800, o que pode levá-lo a desistir da compra ou optar pelo conserto do eletrodoméstico antigo.

Mas a CDL é contra a taxa atual? Acha que está em um percentual adequado?

Não, não. Infelizmente, os juros deveriam estar na faixa de 5% a 7%, no máximo 10%, mas já chegaram a 14% e continuam subindo.

Acredito que o governo federal deveria adotar outra estratégia: oferecer mais financiamento para ampliar as indústrias. Com mais investimento, as empresas poderiam contratar mais funcionários, expandir sua produção e, consequentemente, reduzir a inflação.

Se as indústrias recebessem esse incentivo, aumentariam sua capacidade produtiva e equilibrariam o mercado. No entanto, esse não tem sido o caminho adotado.

O senhor mencionou o impacto do combustível nos preços, especialmente no caso do diesel, que afeta os alimentos. Atualmente, a Refinaria da Amazônia importa combustível para atender à demanda local, já que o refino foi paralisado. Como o senhor avalia o impacto disso nos produtos vendidos aqui?

A refinaria local atende apenas 30% do abastecimento, enquanto o restante do combustível é trazido por empresas como Shell, Equador e BR, via Belém e Santarém. Sua produção não é significativa, nem atinge 30% da demanda. O problema maior está na alta do dólar e do barril de petróleo, que impactam os preços.

No entanto, o governo tem adotado uma estratégia que considero acertada para o Brasil. Embora os preços dos combustíveis tenham sofrido vários reajustes recentemente, a venda tem sido mantida sem repassar totalmente esses aumentos, com o governo federal absorvendo parte da diferença. Para o país, essa política é adequada, embora possa gerar desafios para a Petrobras no longo prazo.

Trata-se de uma manutenção de preços que, se mantida, permite uma previsão melhor dos impactos no frete, especialmente para regiões mais distantes, como Amazonas, Pará e Amapá, onde o transporte depende quase totalmente do diesel. Quando o diesel sobe, o custo do frete também aumenta, afetando toda a cadeia logística.

O cenário atual reflete exatamente isso: o aumento do diesel leva ao encarecimento do frete. No Brasil, onde a maior parte da carga percorre longas distâncias, o impacto é significativo. Cerca de 70% da nossa carga vem de São Paulo, passando por Belém e chegando a Manaus por balsa. Esse trajeto longo eleva os custos e atinge diretamente a população do Norte, diferentemente de São Paulo, onde o impacto é menor.

Nesse contexto, o governo federal tem adotado uma estratégia que considero acertada. Embora essa política possa ser prejudicial à Petrobras, que mantém os preços internos mesmo com a alta do barril de petróleo no mercado internacional, para quem mora em regiões distantes, como o Norte, essa estabilidade é essencial. Diferente de governos anteriores, que aplicavam reajustes constantes e impossibilitavam algumas contas com tantos reajustes, hoje há maior previsibilidade nos preços, o que evita um descontrole total nas contas.

A refinaria local é privatizada e, como o senhor disse, responde por 30% do abastecimento. Então, quanto essas decisões da Petrobras realmente nos afetam?

São duas questões diferentes. A refinaria local, por ser privatizada, funciona como qualquer outra empresa. Quando importa petróleo a um preço global, por exemplo, 80 dólares o barril, a Petrobras também paga esse valor. Se o preço internacional sobe para 85, a Petrobras mantém sua venda a 80 dentro do Brasil, enquanto empresas privadas precisam comprar pelo novo valor.

Se o preço internacional chega a 90, a Petrobras continua vendendo a 80, enquanto as empresas privadas precisam pagar mais caro pela importação. Isso é vantajoso para o Brasil, especialmente para o Norte, pois evita aumentos bruscos nos combustíveis e, consequentemente, na inflação.

Por outro lado, essa política impacta as refinarias e importadoras privadas, que operam com preços mais altos e enfrentam dificuldades para competir. Elas acabam optando por comprar da Petrobras, já que importar a um custo maior as tornaria inviáveis. Isso pode levar a um cenário onde a Petrobras absorve grande parte da demanda, mantendo os preços estáveis, mas acumulando prejuízos.

O número de desemprego tem caído e alcançado recordes positivos. Como o comércio vê essa situação? Está sendo mais difícil contratar?

Nós, no Sebrae, juntamente com a Fecomércio e a CDL, estamos enfrentando uma grande demanda por treinamento. Hoje, temos uma falta significativa de funcionários, especialmente para supermercados, e a situação está difícil. Há também uma carência específica no setor marítimo, com a falta de comandantes e operadores de empurradores, pois esses profissionais precisam de cursos especializados e autorização da Marinha. Vários barcos estão parados por essa razão.

O problema nem é a falta de qualificação, é de pessoas. Estamos tentando suprir essa demanda, treinando até pessoas sem experiência devido ao desespero. Na CDL, temos um programa de empregabilidade gratuito que tem sido um sucesso e até a indústria já pediu para usar. Ele é ótimo, porque consegue buscar funcionários para vagas a partir de filtros definidos pelas empresas, se querem alguém só com ensino médio para treinar, por exemplo, porque às vezes não conseguem encontrar alguém.

Principalmente no caso da baixa renda, quando alguém recebe subsídios do governo, como o Bolsa Família, se essa pessoa se emprega, acaba perdendo o benefício. Estamos em conversas com a nossa bancada, propondo uma solução: se ele se empregar, poderia continuar recebendo o benefício, mas com a redução gradual. Por exemplo, após três meses, o valor do benefício cairia para 50%, mas ele ainda receberia, evitando que a pessoa tenha receio de perder o subsídio ao entrar no mercado de trabalho. O deputado Sidney leite está conosco, porque é melhor fazer isso por um período e conseguir empregar do que ficar sem.

Fonte: A Crítica

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